terça-feira, 22 de julho de 2008

RESPEITO – ARNALDO ANTUNES – GUETO - E AGORA PARA DANÇAR? – 1989

O que está sendo feito
Pode ser de outro jeito
O que já se fez é bem feito
O que está sendo feito
Pode não estar direito
O que passou é perfeito
O que está acontecendo
Pode ter defeito
O que já foi eu aceito
O que está acontecendo
Pode ser de outro jeito
O que passou merece
Respeito

Comentário: Por que essa mania de a gente achar que o passado foi sempre melhor que o presente? Quem nunca ouviu alguém dizer (ou mesmo dito): “Bons tempos aqueles...”, “Eu era feliz e não sabia”. Acho que valorizamos o passado em detrimento do presente, porque acabamos esquecendo os defeitos antigos e valorizando demasiadamente os atuais. Então o tempo passa, a vida continua e a gente continua sonhando com um futuro melhor, recordando um passado dourado e não vivendo o presente.

José Rosa (ZeRo S/A)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

POR QUE GREVE?

Por que greve?


Você sabia que no ranking do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), entre os 57 países que tiveram seus estudantes avaliados, o Brasil ficou em 54º em Matemática, 50º em leiturae 53º em Ciências?
Em relatório sobre a situação da educação no mundo, divulgado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), situa o nosso país em 72º entre 127 nações.Em contrapartida, nossas crianças e nossos adolescentes são os que mais possuem celulares no mundo.
O que podemos concluir disso? Que há um grande interesse de não formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, mas sim, de consumidores alienados dos reais problemas sociais.
Nossos jovens não sabem ler, não sabem as operações básicas de matemática e possuem pouca cultura, mas a grade maioria deles estão “armados” de celulares, MP3, MP4 e afins. Que nação será construída disso?
No momento ocorre uma grande paralisição no ensino estadual de São Paulo e o governo (sim, com letra minúscula) tenta manipular a realidade e informar a população de que não há greve. Mais uma mentira, como a que professores recebem R$ 5.000,00 de bônus, que a maioria do professorado é faltosa, que escolas estão sendo reformadas e outras falácias que escondem o caos nas nossas escolas. Na mídia é mais fácil obter informações sobre a “mulher melancia” (outra vez de letra minúscula), sobre a nossa outrora magnífica seleção brasileira de futebol e outras notícias inócuas, mas nada que discuta a nossa sucateada educação.
Jovens acordem! Pais acordem! Professores acordem! Sociedade acorde! Nossos salários, até o dia 28 de maio, foram, única e exclusivamente, dirigidos para o pagamento de impostos. Merecemos e temos o direito de uma educação de qualidade.
Essa luta é de todos. Até quando seremos um povo de bunda-moles que deixa essa corja nos roubarem e nos fazerem de trouxas descaradamente? Até quando?
José Rosa (ZeRo S/A)

domingo, 20 de abril de 2008

Todo Mundo Quer Amor- Arnaldo Antunes - Titãs - Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas - 1987

Todo mundo quer amor
Todo mundo quer amor de verdade
Uma pessoa boa quer amor
Uma pessoa má quer amor,
Quer amor de verdade
Quem tem medo quer amor,
Quem tem fome quer amor,
Quem tem frio quer amor,
Quem tem pinto saco boca bunda cu buceta quer amor
Ele quer
Ela quer
Ele quer
Ela quer
Todo mundo quer amor de verdade

Comentário: "Todo mundo quer amor". Para mim essa é a segunda maior certeza da vida. A primeira, como todo mundo sabe, é que todos iremos morrer e ninguém ficará para semente. Realmente todo mundo quer uma amor de verdade: branco, negro amarelo,, rico, pobre, homem, mulher, hetero, homo, bad boy, romântico, patricinha, machista, feminista, idoso, jovem, egoísta, generoso, católicos, mulçumanos, protestantes, budistas, etc, etc, etc. Todo mundo quer um amor de verdade, mesmo que tenha que se mentir para isso. Até eu e você. Não é verdade?
José Rosa (ZeRo S/A)

segunda-feira, 17 de março de 2008

De Mais Ninguém - Marisa Monte e Arnaldo Antunes - Marisa Monte - Verde, Amarelo, Anil, Cor-De-Rosa e Carvão - 1994

Se ela me deixou, a dor
É minha só, não é de mais ninguém
Aos outros eu devolvo a dó,
Eu tenho a minha dor

Se ela preferiu ficar sozinha,
Ou já tem um outro bem.
Se ela me deixou a dor é minha,
A dor é de quem tem.

É meu troféu, é o que restou,
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor,
Eu tenho a minha dor.

A sala, o quarto, a casa está vazia,
A cozinha, o corredor
Se nos meus braços ela não se aninha,
A dor é minha.

É o meu lençol, é o cobertor,
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor
Eu tenho a minha dor (...)

Comentário: Tristeza superlativa. Leva-nos até a sentir uma dor no peito. A letra dessa música descreve tão bem a solidão, que nos é possível visualizar o sujeito vagando, solitariamente, pela sua casa. É possível sentir a dor que ele está sentindo. Vejo-me lhe dizendo: Sai dessa. Desencana e parte para outra. Mas acho que ele não escutaria. Existem momentos que preferimos ficar curtindo uma fossa. A dor-de-cotovelo é descrita de uma forma tão lírica e bela nessa letra, que comprova que a arte é capaz de transforma até a dor em algo sublime.
José Rosa ( ZeRo S/A)

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Quem Tem Pressa Não Se Interessa - Humberto Gessinger - Engenheiros do Hawai - A Revolta dos Dândis (1987)

Quando você me olha
Com seu olhar tranqüilo
Sempre diz que falta algo
Ou isto ou aquilo
Você não entende
E se surpreende
Seu olhar já não está tranqüilo
Mas quem tem pressa
Não se interessa
Por questões de estilo
(Questões de estilo)

As vozes oficiais dizem:
"Quem sabe..."
Dizem: "talvez..."
Enquanto os vídeos e as revistas
Mostram imagens sem nitidez
Você se espanta:
"Há tanta coisa nos jornais!"

Mas quem tem pressa
Não se interessa

Em andar rápido demais
(Rápido demais)

Eles têm razão
Mas a razão é só que eles têm
A lâmina ilumina a mão
A lâmpada cria a escuridão
Há muita grana atrás de uma canção
O tempo que nos gera também gera generais
O tempo nunca espera que cheguem os comercias
(Os comerciais)

Nas veias abertas
Da América, menina
Um mar vermelho de sangue
Leva navios piratas,
Negociatas, concordatas,
Candidatos democratas,
Sucos e sucatas
Ternos e gravatas
Secando cataratas e lavando as mãos
Dando a impressão de que
Na areia movediça nada se desperdiça


Comentário : Imagine uma viagem dentro de um trem bala a muito mais de 200 km/h. Com certeza não teríamos a mínima possibilidade de apreciar a paisagem. Que desperdício de oportunidade. E hoje a vida cotidiana é parecida com essa viagem. Vivemos apressados e deixamos passar muitas sutilezas importantes em nossas vidas: pessoas, emoções, experiências. E aonde será que vamos chegar com tanta pressa? Na letra podemos perceber, se lermos com paciência, que o autor nos mostra imagens conteporâneas, que ilustram a distorção de valores que alimentamos: nos alimentamos de imagens voláteis (televisão, revistas de fofocas, etc) e consideramos inócuas e chatas atividades que pedem uma demanda maior de tempo para usufruí-las, como a leitura, um bom papo cheio de conteúdo. Leia novamente as duas estrofes desta letra e reflita sobre elas. E dentro desse tema, faço uma sugestão de leitura: Devagar de Carl Honoré. E lembre-se de que, quem tem pressa, não se interessa.

José Rosa (ZeRo S/A)

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Ouro de Tolo - Raul Seixas - Krig-Ha, Bandolo! (1973)

Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73
Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa
Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa
Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: E daí?
Eu tenho uma porção de coisas grandes
Pra conquistar, e eu não posso ficar aí parado
Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Pra ir com a família ao Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos
Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco
É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa dez por cento de sua
Cabeça animal
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou
policial
Que está constribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarda cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas que separam
quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas que separam
quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador

Comentário: O filósfo Artur Schopehauer dizia que a vida é sofrimento porque é um constante querer eternamente insatisfeito e que a satisfação de um desejo é como a esmola que se dá ao mendigo, só consegue manter-lhe a vida para lhe prolongar a miséria. Vejo que a letra da música Ouro de tolo reflete essa filosofia de descontentamento eterno e se atentarmos para nossas atitudes, poderemos perceber que muitas de nossas tristezas se alinham a essa forma de pensar. Ainda mais nos dias atuais que o mundo inteiro tornou-se um vitrine.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Não Sou Mais Disso - Zeca Pagodinho e Jorge Aragão - Zeca Pagodinho - Deixa Clarear (1996)

Eu não sei se ela fez feitiço
Macumba ou coisa assim
Eu só sei que eu estou bem com ela
E a vida é melhor pra mim
Eu deixei de ser pé-de-cana
Eu deixei de ser vagabundo
Aumentei minha fé em Cristo
Sou bem-quisto por todo mundo

Na hora de trabalhar
Levanto sem reclamar
E antes do galo cantar
Já vou
À noite volto pro lar
Pra tomar banho e jantar
Só tomo uma no bar
Bastou
Provei pra você que eu não sou mais disso
Não perco mais o meu compromisso
Não perco mais uma noite à-toa
Não traio e nem troco a minha patroa

Comentário: A paixão é um feitiço? Um encantamento? Para Zeca Pagodinho e Jorge Aragão parece que sim. Ela é capaz de recuperar um vagabundo e transformá-lo em um "homem sério".
Lendo essa letra , a gente até consegue imaginar a figura do cara antes e depois de ser resgatado pelo amor de sua amada. Ela traz uma linguagem simples (e não simplória como as letras das bandas de pagode mais populares), mas muito bem trabalhada. É a essência do samba.
Uma curiosidade sobre esta letra é que ela mostra claramente uma forte característica cultural brasileira: o sincretismo religioso. Ao mesmo tempo que ela meciona feitiço e macumba, também faz referência a Jesus Cristo.
Isso é Brasil!

ZeRo S/A (José Rosa)